A ossada de um moleque tem a energia da juventude, a sabedoria da ancestralidade e a força da memória. Ficcionalizando lembranças, reconstruindo histórias, invocando ora a espiritualidade e seus ancestrais, ora o cotidiano e suas realidades, Gabriel Sanpera prova, em seu segundo livro, que não está no mundo a passeio, e que tem uma missão e um sério compromisso com sua escrita. Na experimentação das formas e formatos, poeticamente proseando com o leitor, Gabriel brinca de escrever muito a sério sua mensagem. O título, escolhido não ao acaso, direciona o olhar a dois dos contos mais representativos da obra e revela, sutilmente, do que o livro trata: a estrutura desse moleque, menino, moço. A estrutura ancestral, emocional, o racismo estrutural que o atravessa, a estrutura física que impacta caminhos, escolhas, imposições. Há uma tênue linha, invisível, que transpassa os textos fazendo uma conexão única, às vezes quase imperceptível, entre eles. A ossada é elemento literal e simbólico, real e metafórico, dando consistência orgânica ao conjunto de memórias, sonhos, dores, amores, vivências diversas e intensas de um corpo que afirma seu valor e sua existência a cada conto, a cada linha.
A Ossada de um moleque é o segundo livro de Gabriel Sanpêra, escritor e poeta nascido em Barra Mansa, RJ, que escreve e performa sobre si, sobre os seus, sobre o cotidiano de corpos que existem, amam, lutam, sorriem em diáspora.
“A ossada de um moleque é sobre o ato estético-político de tomar posse da adversidade e, a partir dela, criar. É expressão de saberes que reatam o elo ancestral com a linha vibrante da vida.” Simone Ricco.